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anna israel: was will das weib?


28 nov 2017 – 20 jan 2018
texto christophe kotanyi

  • A Central Galeria tem o prazer de apresentar "Was will das Weib? (O que deseja uma mulher?)", primeira exposição individual da artista Anna Israel. A artista expõe, nessa ocasião, uma série de trabalhos de mídias distintas como objetos, fotografias, colagens e desenhos.

    O interesse da jovem artista em descobrir novas formas de expressão se faz evidente em como ela cria associações entre as diferentes técnicas, materiais e ideias que compõem seus trabalhos. Os desenhos, muitas vezes reorganizados tornam-se colagens; diferentes coisas justapostas edificam novos objetos.

    A experimentação é um meio que possibilita que novos significados, linguagens e perspectivas apareçam, para que dois elementos díspares se influenciem e acabem por transformar um ao outro num terceiro, único.

    "Nesta travessia em direção ao jogo livre das formas, a artista deve sair de seu contexto e de suas referências habituais, como acontece com o estranhamento causado pelos objets trouvés, objetos encontrados pela artista e que, descontextualizados, abrem-se para outras definições, alterando seu estado de dicionário. Nada é o que parece ser. A pedra sabão não é uma pedra. Eu é um outro (Rimbaud)." (Christophe Kotanyi, Berlin, 2017)

  • “Uma obra de arte é filha de sua época, e mãe de nossas emoções”
    (Wassily Kandinsky).

    "Arte não é sismografia, arte é o terremoto mesmo"
    (Timm Ulrichs)

    Arte é pesquisa. Pesquisa o quê? Pesquisa formas. É o que podemos perceber nos desenhos de Anna Israel. Pega uma forma, joga com ela, a deforma, a inventa; recebe impulsos de fora e os adapta às suas tentativas e a seus objetivos.

    A artista deve tornar-se uma folha em branco, apagar seu quadro negro; para pesquisar isso que estou chamando de forma, é necessário o exercício do esquecimento: da forma que já lhe foi dada, da sua própria forma, ou seja, quem sou eu, o eu recebido, o eu formal, para assim vir a conhecer um eu íntimo, escondido, desconhecido. Isso não só seria um dos objetivos dessa pesquisa artística, mas acredito que também a sua condição inicial. Quem conhece o jogo livre das formas, sabe do que estou falando. Ovo e galinha.

    Nesta travessia em direção ao jogo livre das formas, a artista deve sair de seu contexto e de suas referências habituais, como acontece com o estranhamento causado pelos objets trouvés, objetos encontrados pela artista e que, descontextualizados, abrem-se para outras definições, alterando seu estado de dicionário. Nada é o que parece ser. A pedra sabão não é uma pedra. Eu é um outro (Rimbaud).

    Agora, por que inventar as formas? Será porque não consigo mais me reconhecer nelas, não consigo mais me exprimir com elas? Tudo se transforma, inclusive as formas. A arte busca aquelas em que nós nos reconhecemos, inclusive as formas que vão dar-nos forma. As formas mortas não se transformam, e também não dá para viver nelas.

    Essa arte, então, seria pesquisa formal; pesquisa as formas através das quais nos exprimimos, também fora das convenções onipotentes. As velhas formas carregam essas convenções; já as novas, as frescas, procuram estar livre delas. Falam de nossa necessidade interior, como dizia Kandinsky.

    Percebo, nos trabalhos de Anna Israel, uma herança provinda da revolução da abstração, passando pelo cubismo, pelo surrealismo, pela pop-art, pela arte performativa até chegar na colagem: a pesquisa formal mesma.

    A colagem opera pelo deslocamento, pela condensação e pelo estranhamento das significações, em analogia com o sonho, como analisou Freud. Cada elemento recebe uma nova significação: um fio elétrico se revela fio de Ariadne. Na colagem, nada é arbitrário, as formas se juntam e se transformam mutuamente, produzindo formas e significações novas, revelando formas e símbolos escondidos nos objetos, mesmo os mais banais, abrindo novas dimensões e perspectivas. Nada é banal. A caixa de ferramentas comum torna-se, assim, objeto misterioso, torna-se pergunta: o que sou? Ariadne: entendemos bem, porém não conseguimos formular em palavras.

    Em sua obra, Anna Israel manipula essa nova língua, de maneira que é possível reconhecer, à primeira olhada, a sua assinatura, não só pelo conteúdo, mas pela forma artística mesma, pelo estilo, pelo jeito particular da artista usar o seu estilete. É a voz que reconhecemos entre mil, ainda mais precisa que uma impressão digital. Nesse caso: cor e luz, cores luminosas e luzes descoloridas, o segredo da artista, a sua assinatura, o equilíbrio da paixão, do delírio e da sobriedade, um equilíbrio lábil, o equilíbrio frágil da composição e da inspiração, do cálculo e da espontaneidade, do jogo e do sério, do eu e do não-eu. Isso transforma a língua, a refresca, dá a ela novos conteúdos e novos poderes. Refresca as determinações próprias da artista. Isso seria o sentido do trabalho artístico.

    Cada obra da exposição de Anna Israel documenta esse ato de transformação alquímica simultânea.

    A artista, ao conseguir a sua própria língua, abre novos caminhos que nos fornecem uma língua fresca, autêntica; autenticidade esta que nos remete àquilo que reside numa possibilidade de resposta para a pergunta nunca respondida formulada por Freud: O que deseja uma mulher? (Was will das Weib?) Será que esse desejo não consiste em justamente ser “si mesma”, inclusive naquele mesmo sentido de inventar seu próprio estilo?

    Bom, mas o que significa ser si mesma? É aqui que começaria o trabalho mesmo.

    // Christophe Kotanyi

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