carmézia emiliano: ko'ko non zumbá, sesc roraima

Carmézia Emiliano participa de Ko’ko Non Zumbá, exposição que reúne duas pinturas de Emiliano ao lado de cerâmicas 11 mestras ceramistas roraimenses: Vovó Bernaldina, Carmelita Raposo, Damiana Raposo, Erlize de Souza, Iolanda Fidelis, Ivanir Fidelis, Joana Fidelis, Lelibeth Salazar, LídiaRaposo, Margarete Raposo, Vovó Zilda Fidelis.

Com curadoria de Joana Fidelis, Lídia Raposo, Abassá Tata Bokulê, Daya Roraima e Rafael Pinto, a mostra inaugura no dia 13 de novembro de 2023, no Sesc Roraima, e poderá ser visitada até 13 de fevereiro de 2024.

Abaixo, texto de dois dos curadores sobre a exposição:

A terra, o barro e a argila são elementos que têm sido reverenciados e utilizados por diversos povos e nações ao redor do mundo ao longo de muitos anos. No contexto da cultura dos povos originários e de matriz africana, o uso do barro vai muito além de uma simples matéria-prima extraída da terra para criação de peças utilitárias. Para os povos indígenas da etnia Macuxi, o barro é conhecido como Ko’ko Non, que pode ser traduzido como "Vovó Barro", uma divindade feminina sagrada que desempenha um papel fundamental no cotidiano da comunidade desde a prática alimentar, rituais de cura, conexão espiritual e construção de objetos ritualísticos. Da mesma forma, nas tradições dos povos de religião de matriz africana de nação Angola, a Nkissi Zumbá é associada ao barro. Essa divindade é vista como a guardiã da lama primordial, o barro, a argila da qual são feitos os homens, representando a ancestralidade e a sabedoria. As semelhanças entre a visão dos Macuxi e dos povos de matriz africana são legítimas, ambos reconhecem a profunda ligação entre o ser humano e o barro. 

Tanto a Nkissi Zumbá como a Vovó Barro são reverenciadas como anciãs e matriarcas, figuras femininas enriquecidas por inúmeras experiências e sabedorias. São mulheres que representam a força, a resiliência e a profunda conexão com a terra e a espiritualidade, desempenhando papéis fundamentais nas comunidades dos povos de matriz africana e indígenas. Como matriarcas, elas são símbolos de força da natureza e fontes de inspiração, enaltecendo a importância das mulheres que cuidam, lideram e preservam tradições culturais e cosmológicas ao longo das gerações.

Dessa relação de semelhança e identificação, nasce a exposição Ko’ko Non Zumbá com o objetivo de realçar a importância intrínseca do barro nas práticas culturais e espirituais destes povos no território roraimense, especialmente no âmbito da cerâmica. Através desse mergulho, buscamos despertar olhares para como o barro desempenha um papel central na preservação de tradições ancestrais, na expressão artística e na conexão espiritual que permanece vibrante e resistente nos dias atuais. 

Ter contato com uma peça cerâmica produzida pelas Mestras e Ceramistas Macuxi de Roraima é mais do que uma simples interação com um objeto; é tocar nas raízes que nos conectam ao tempo de nossos antepassados. Esse vínculo com o barro e a cerâmica transcende a mera apreciação estética, representando uma ligação profunda com a terra, a natureza e a espiritualidade. Da mesma forma, o barro também desempenha um papel essencial nas religiões de matriz africana, simbolizando essa mesma conexão com a terra e a renovação espiritual. É uma parte fundamental dos rituais, das oferendas e das práticas que permitem aos praticantes honrar suas divindades e manter uma ligação profunda com suas tradições religiosas e culturais. 

Cada peça presente nessa exposição carrega consigo os saberes originários e afro-brasileiros amazônicos, moldados com habilidade através do toque das mãos, da pedra lisa e do barro. Dessa forma, podemos estabelecer uma correlação entre cada peça e os conhecimentos que residem por trás do barro solidificado, tornando visíveis os laços entre a arte cerâmica e a rica herança cultural desses povos.

Daya Roraima e Rafael Pinto


Carmézia Emiliano: Ko'ko Non Zumbá, Sesc Roraima
13 nov 2023 - 13 fev 2024
Curadoria de Joana Fidelis, Lídia Raposo, Abassá Tata Bokulê, Daya Roraima e Rafael Pinto
Sesc Roraima, Boa Vista, Brasil


 

carmézia emiliano, ko’ko non, 2023. foto: abreu mubarac

Anterior
Anterior

ros4: chega de se esconder

Próximo
Próximo

c. l. salvaro: dimensão cidade, casa das rosas