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ana júlia vilela: todas as festas de amanhã


08 fev – 20 mar 2021
texto carollina lauriano

  • A Central Galeria tem o prazer de apresentar Todas as festas de amanhã, individual de Ana Júlia Vilela. A jovem artista apresenta cerca de vinte pinturas inéditas em que reelabora a linguagem instantânea das redes sociais em uma iconografia muito própria, repleta de formas fluidas e tons pastéis.

    Distribuídos como páginas de um diário, os trabalhos revelam narrativas íntimas e curiosas: “Ao usar a pintura como plataforma para nos colocar diante de assuntos que podem ser considerados frívolos, Ana Júlia propõe um olhar para nossa humanidade”, declara Carollina Lauriano, que assina o texto de apresentação da mostra.

    Natural de Belo Horizonte, Ana Júlia Vilela nasceu em 1996 e graduou-se em Artes Visuais pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em 2018. Atualmente reside e trabalha em São Paulo. Desde muito jovem, expõe regularmente em salões e coletivas em diversas cidades do país: foi premiada no 43º Salão de Arte de Ribeirão Preto (2018) e recebeu Menção Honrosa na Bienal das Artes Sesc-DF (Brasília, 2018), entre outros. Suas individuais incluem: A morte de uma festa, MARP (Ribeirão Preto, 2019), e O som dos olhos, Museu Municipal Casa da Memória (Cajamar, 2012). Ainda em 2021, fará uma individual na Fundação Ecarta, em Porto Alegre, prevista para o segundo semestre.

  • Em sua produção artística, Ana Júlia Vilela mantém um envolvimento ativo com cadernos de desenho. Operando nos moldes de um diário, esse espaço íntimo criado pela artista abriga não somente gestos, rascunhos e intenções que precedem suas pinturas, mas também suas visões e desejos de mundo. E é nessa relação, entre o público e privado, que Todas as festas de amanhã se estabelece.

    Já de início, a exposição situa o espectador diante de uma espécie de caderno aberto da artista, estimulando uma imersão íntima em sua poética. Transitando entre o figurativo e o abstrato, Ana Júlia nos entrega uma pintura que revela, para além da sua investigação pictórica, textos que ora lembram um tweet, ora buscam maior elaboração: uma simulação de trocas de conversas rápidas via WhatsApp, sua fixação por fantasmas, uma pesquisa sobre arcadas dentárias ancestrais, seus gatos, entre outros casos curiosos presenciados pela artista. Ana Júlia escolhe a pintura como suporte para sua prática, mas o mais curioso é que em nossos encontros falamos de tudo, menos a pintura em si.

    E é nesse sentido que Todas as festas de amanhã ganha força como representação e discurso artístico. Ao usar a pintura como plataforma para nos colocar diante de assuntos que podem ser considerados frívolos, Ana Júlia propõe um olhar para nossa humanidade. Como se a artista nos fizesse olhar para o outro lado da moeda e, por um momento, passássemos a valorizar o que há de mais ordinário em nós e perceber a beleza de não se levar a sério a todo momento.

    Ao ativar percepções de que não há extraordinário sem que haja o ordinário, o banal e o cotidiano – dos quais parecemos nos distanciar cada vez mais – é quase imperioso se colocar em um estado melancólico em relação à nossa existência. E é nesse aspecto que mora a beleza e a generosidade do trabalho da artista: suas pinturas ativam camadas que nos permitem entrar em contato com nossos sentimentos, existencialismos e contradições. A grande magia desse fenômeno é permitir sentir-se mais vivo do que nunca, fazer o mergulho nas profundezas que nos leva a querer emergir à superfície. Todas as festas de amanhã podem vir a ser as melhores; e todas aquelas que já vivemos, também não foram? Trata-se de poder compreender a perspectiva da qual estamos olhando. Diante de um precipício, você salta, recua ou pára um instante para observar e contemplar a vista?

    Ao maximizar seu diário pessoal, é como se Ana Júlia nos dissesse que não é preciso esconder nada, que talvez seja possível navegar em um mundo no qual possamos ser apenas nós mesmos e que nossos interesses, grandiosos ou não, devem ser aceitos. Se você saísse daqui e decidisse iniciar o próprio diário, como você passaria a se observar a partir desses questionamentos? Quem é você quando ninguém está observando? Você teria coragem de se mostrar dessa forma? Assim, Todas as festas de amanhã propõe uma reflexão sobre aspectos que são comuns à vida de todos, mas que são importantes por nos tornar únicos.

    // Carollina Lauriano

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