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rodrigo martins: cabeças, bichos e plantas


04 fev – 23 mar 2019

  • A Central Galeria tem o prazer de apresentar Cabeças, bichos e plantas, individual do artista Rodrigo Martins. A exposição apresenta 25 pinturas inéditas do artista. O conjunto de trabalhos exibe uma sucessão de cenas que ora são construídas integralmente no estúdio e ora acontecem no plano pictórico, onde a observação de um assunto serve como ponto de partida para a construção de pinturas que possuem a lógica de edição como fio condutor de seus processos.

  • Vai ser difícil não começar falando sobre a casa. Não esta casa em particular, mas um certo tipo de ambiente que propicia situações, que propicia imagens. Um ateliê doméstico, um jardim, com uma porta aberta para o mundo natural, por onde libélulas entram voando e se debatem pelas paredes. Numa garagem com pé direito com pouco mais de dois metros, no limite do tamanho das maiores telas que estão aqui expostas, as pinturas se acumulam. Aranhas não tão pequenas assim fazem teias nos pés das mesas de cavalete. É um pouco dessa característica de um espaço ativo, usado de forma coletiva, o que permite que interferências não programadas vão surgindo. O lugar de trabalho também influencia o método que usamos e as questões que surgem.

    A primeira vez que visitei Rodrigo Martins foi numa casa curiosamente parecida, ainda no Rio de Janeiro. Pareciam-se em atmosfera, mais do que em arquitetura. Acho que lá também não tinha campainha. A casa acompanhava uma encosta e o espaço do ateliê ficava descendo as escadas, um galpão que fazia fronteira com o mato lá fora. Era 2012, lembro de ouvi-lo falar sobre algumas das suas formas de trabalhar, e é possível perceber uma continuidade em muitos desses processos. Há um certo repertório visual. Lembro que falávamos de como as pesquisas passam de um meio/suporte para o outro. As coisas que víamos nas telas estavam lá, moravam naquele lugar.

    Vejo um contexto parecido no espaço onde ele trabalha agora. A casa junta muitos objetos, são deixados nos cantos, esquecidos, e vão ficando. Outros objetos, produzidos por Rodrigo experimentando, também se acumulam e acabam se misturando naturalmente com resíduos mais domésticos. Não é apenas o acaso, no entanto, às vezes ele até as reforça, cria armadilhas para uma situação. As coisas costumam ganhar ação num momento posterior. Quando encontra coisas assim, registra para só depois revisitá-las, deixa o tempo passar para ver se o interesse (ou a estranheza) das imagens persiste. Talvez sobrevivam mesmo que só para virar um elemento menor em alguma tela, coadjuvante. Não se prende por completo às referências.

    Na rotina da pintura, os trabalhos convivem lado a lado, se comunicam. Suas paletas se contaminam, quando um cor de rosa usado para a palma da mão torna-se também o rosa de de um detalhe em outra pintura. Cores mais ácidas que vão ecoando em outras obras. Os problemas visuais surgem e vão sendo resolvidos com novos problemas, ou mesmo despontam saídas para as telas vizinhas. Pode começar pintando de observação e acabar cobrindo uma área da tela que não está se resolvendo para ver o caminho que a imagem apagada leva, e então surge um outro elemento. Mas sem apagar por completo, para deixar pistas do que já passou por ali. As pessoas que também vivem lá deixam rastros nas imagens. Interferem na paisagem da casa. Fazem café fresco e deixam na garrafa térmica. Tornam-se modelos para tirar moldes. Ficam partes dos seus corpos. A figura humana acaba entrando na imagem sempre meio encoberta. Rostos velados, moldes de silicone, não são da temporalidade do retrato. Uma tradição da pintura também é presente – motivos da natureza-morta, da pintura de paisagem. Elementos mínimos para transformar a pintura em figurativa convivem com certa abstração da realidade, seja por técnica, por justaposição ou por escala. Não é estranho que uma colagem dessas referências diversas venha se juntar à pintura de observação, unir esses elementos é uma decorrência quase natural. De fato, vários dos objetos produzidos são abstratos em si.

    O vocabulário que as pinturas de Rodrigo pedem são mais dessa ordem descritiva de situações: o jardim, insetos, plantinhas, objetos utilitários parados, objetos feitos, objetos quebrados, objetinhos de casa. Composições de vasos de jardim que fazemos quase sem querer, como por livre associação. Pequenos rostos de massinha ou em argila, tão amassados em matéria como nas pinceladas, na palma de uma mão. Tirar moldes, pintar o ato de tirar molde. Ou seria mais “tirar foto do ato de tirar molde”, para poder depois pintar uma certa estranheza desta ação? Pois o próprio material usado nesse processo já é estimulante, suficiente para juntar elementos – plástico verde, silicone, tinta, orelha. Mas como fazer a imagem funcionar do jeito que a coisa é? Como pintar cada coisa do jeito que ela pede para ser pintada? Esse interesse em unir o motivo da pintura com a forma de pintar é o que parece mover a pesquisa de Rodrigo Martins e criar um laço entre as telas que encontramos aqui. É um processo de pintura sempre atravessado pelos componentes do espaço. Ficar atento, deixar gatilhos pela casa, saber trabalhar os componentes ao seu redor. E pintar, pois, no fim do dia, é na tinta que tudo se resolve.

    // Laura Cosendey

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